terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sonhar é universal



Nessa semana, assisti ao filme “O Palhaço”, de Selton Mello. Já esperava um roteiro inteligente, repleto de significados, mas saí da sala de cinema encantada com a história e os personagens. Humor na medida certa; participações surpreendentes de atores consagrados; trilha sonora marcante; ambiente lúdico, bem a cara do Brasil... Poderia passar minutos listando qualidades técnicas, mas um aspecto retratado no longa-metragem se sobressaiu: a capacidade de sonhar, tão bem expressada na vida do palhaço Pangaré, interpretado pelo ator e diretor Selton Mello.

Em meio à dura realidade do interior do país, junto com a trupe do Circo Esperança, o artista Benjamim – o Pangaré – encarava, a cada espetáculo, o desafio de extrair risos da plateia. Mas ele achava que já não tinha mais tanta graça assim... Na verdade, o jovem andarilho travava um embate consigo mesmo, buscava sentido para a vida além das lonas. Seu sonho? Ter uma carteira de identidade e um CPF, pois tudo que ele sabia sobre si estava registrado numa certidão de nascimento velha e rasgada, que, para o mundo, em determinadas circunstâncias, não tinha tanta validade. Além disso, ele tinha um objeto de desejo: um ventilador. Uma perfeita metáfora de que sonhar é universal.

Para tornar concreta sua imaginação, Pangaré precisou romper algumas “fronteiras”; a principal delas, a do medo. Não é fácil sair da zona de conforto, trocar o certo pelo duvidoso. Mas toda mudança envolve riscos e perdas; são etapas que não podem ser puladas. Uma boa dose de coragem é necessária para desbravar o desconhecido, mesmo que nosso destino final seja, ironicamente, o ponto de partida.

Certa vez, uma amiga escreveu que é preciso aprender a não criar expectativas. Achei a frase controversa, um pouco ousada talvez. Como viver sem criar expectativas? E para onde iria nossa capacidade de sonhar? É certo que ninguém deseja experimentar a dor e a frustração ao se lançar ao novo. Mas continuo a acreditar que nenhuma pessoa encara uma nova fase já se antecipando ao sofrimento, senão, provavelmente, não daria esse passo.

O fato é que nós somos movidos por sonhos. É esse o combustível que nos faz buscar uma vida melhor e mais digna; que nos instiga a mudar o rumo quando já não nos sentimos mais felizes e completos; que nos faz, enfim, rever nossos conceitos e – por que não? – descobrir em nós capacidades tão especiais que nem poderíamos imaginar. Sonhar, como diz o ditado, não faz mal. E o melhor é que, como poucas coisas nessa vida, está ao alcance de todos.

Foto: Divulgação

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