sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Notícias vazias



Nos bancos da faculdade, aprendi que o inusitado é um dos fatores que definem o que é ou não notícia. Tem até uma frase, famosa entre os profissionais de comunicação, que diz que "Quando o cão morde o homem, não é notícia; quando o homem morde o cachorro, é notícia".

Não sei o que estão fazendo desse conceito. Mas o fato é que as notícias têm despertado cada vez menos o meu interesse. Tem portal na Internet que leva esse critério ao pé da letra e delimita uma seção exclusiva para assuntos bizarros. Pessoas com comportamentos estranhos, animais com anomalias genéticas, acidentes inacreditáveis... O grotesco tem espaço garatindo na mídia.

No meio do bombardeio de fatos "curiosos", também imperam informações sem qualquer revelância, apenas porque dizem respeito a "personalidades". É a atriz que deixa celulite à mostra, é o cantor que é visto em um bar tomando uma cerveja gelada com os amigos, é o apresentador de TV correndo na praia e dando uma pausa para uma água de coco... "Vejam, eles são como nós!", alardeiam as revistas de celebridades. Isso não é óbvio?

A impressão que tenho é que o mundo está completamente anestesiado. É tanto lixo despejado sobre as mentes das pessoas, que, aos poucos, elas vão perdendo a capacidade de raciocício crítico e, se bobearem, sua própria autonomia. E isso vai desde as coisas mais simples, como copiar o visual da personagem popular da novela ou assistir a determinado programa só para não ficar de fora das rodinhas, até imaginar que ganhar muito dinheiro independe de esforço ou estudo, que basta ter um pouco de sorte e simpatia ou dar o velho "jeitinho brasileiro". Se os meios de comunicação mostram isso, então é verdade. É, Brasil... A gente se vê por aqui!

É uma pena que coisas realmente interessantes tenham tão pouca repercursão. Projetos que estimulem a criatividade de crianças e adolescentes, iniciativas que valorizem a vida e a família, propostas políticas que tragam benefícios para a população, lugares escondidos que mereçam ser visitados, ações de sustentabilidade vividas na prática... Tudo é mostrado como se fossem casos isolados, inéditos, quase beirando ao bizarro. Pauta fria, ou a "boa notícia" do dia. Enquanto isso, gastam-se tempo e dinheiro com factóides que não acrescentam nada. É a desonesta lógica da audiência, ou do velado desserviço público.

DICA: O filme "Uma manhã gloriosa", de Roger Mitchell, conta a história de uma produtora de TV que tem a missão de levantar a audiência de um jornal matinal. Para isso, ela lança mão de pautas de relevância duvidosa, mas que prometem agradar o público. Uma crítica que rende algumas gargalhadas.

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