quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Metades de mim

Para mim, a música é uma das melhores formas de se expressar. E agora, entre tantas, há uma que diz muito. Na verdade, trata-se de uma poesia... profunda, rica, simples.

Metade
Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Falsos juízes




"Foi você sim!", gritava do outro lado da linha uma arrogante senhora enquanto a atendente tentava explicar, com calma, que não, definitivamente não havia sido ela que lhe havia passado o número errado da central de atendimento. A senhora insistia com seu julgamento até que a atendente, em legítima defesa, alterou a voz e pediu que ela lhe deixasse falar. Ao que parece, a senhora se conteve um pouco, mas, poucos minutos depois, como uma criança birrenta, desligou o telefone sem dar muitas explicações.

Essa cena, eu presenciei hoje de manhã numa central de exames da cidade. E fiquei pensando em como nós podemos ser tão cruéis uns com os outros. "Ah, porque eu acho isso de você!"... "Olha, você está errado"... "Eu sei de tudo, tenho anos de experiência, você é que não sabe da vida...". Afinal de contas, pra que perder o tempo dialogando? Nós somos sempre os donos da verdade, não é mesmo? O outro é quem sempre tem de engolir as nossas opiniões. Apontar o dedo e julgar é sempre mais fácil do que abrir a mente para compreender e tolerar, ou simplesmente aceitar, mesmo a contragosto, que nem tudo funciona da forma como queremos, sobretudo quando se trata de pessoas.

O julgamento é a raiz de muitos males. E a razão é simples. Normalmente, o julgamento é carregado de injustiça e hipocrisia. Fala-se de algo que não se conhece a fundo. São sempre suposições, especulações, aparências... E o que estava apenas no plano das ideias converte-se em verdade absoluta. O resultado é que uma das partes (a que foi falsamente julgada) pode ter sua reputação jogada na lama, o coração despedaçado... Alguns, dependendo da gravidade do julgamento, podem até perder o sentido da vida...

Há aqueles que conseguem seguir seu caminho sem se importar com o que os outros pensam. Todos recomendam isso (uma receita infalível!), mas são poucos os que conseguem. Acho que desde que o mundo é mundo, o homem leva em consideração o que o outro pensa, e isso é bom... mas até certo ponto. Nossos valores são bens inalienáveis, que não se podem corromper. E há um detalhe sutil, que muitos parecem ter esquecido, chamado respeito. Graças a ele, as pessoas conseguem conviver, apesar das diferenças. Se não há, prepare-se para um caminho de pedras!

Precisamos finalmente entender que não somos juízes! Não temos o direito de impor sentenças a ninguém... Quando agirem assim conosco, precisamos nos defender, mostrar o nosso lado, como fez a atendente daquela central de exames. Quase sempre, é claro, "a senhora arrogante vai bater o telefone em nossa cara". Nesses casos, infelizmente não há muito o que fazer, a não ser seguir tranquilo e convicto, sem dar muitas explicações...