quarta-feira, 30 de novembro de 2011

Pequenas sutilezas da Vila Planalto


Paróquia Nossa Senhora do Rosário de Pompeia - Crédito: Ana Lúcia Barreto Soares - Codeplan

Avessa à frieza dos blocos de concreto do Plano Piloto, ela se mostra impetuosa e rebelde. Suas ruas são estreitas, desordenadas e têm nome. As casas, definitivamente, não obedecem a um padrão, e, numa velocidade que parece ignorar qualquer regra, os barracos de madeira, originais dos tempos pioneiros, vão sendo engolidos por residências em concreto, cheias de pompa. Nesse lugar, que ouso dizer ser um dos mais peculiares de Brasília, diferentes gerações convivem lado a lado e ajudam a escrever uma história sem final definido. Essa é a Vila Planalto, que reúne em si todos os sons e cores imagináveis.

Sabe aquele ar de cidadezinha do interior? Foi essa a sensação que tive ao me mudar para lá no ano passado. Cheia de orgulho, sempre falo: “A Vila tem cara de cidade normal!”. Sim, pois para quem, como eu, não é natural de Brasília – e aí me perdoem os brasilienses –, soa estranha essa organização metódica em quadras e setores. As ruas da minha Fortaleza, ao contrário, são vivas e confusas. Os vizinhos se conhecem e, apesar da correria diária, conseguem estabelecer entre si um diálogo mínimo; nem sempre cordial, é claro, mas lá a indiferença passa longe...

Na Vila também é assim. Fico impressionada como as pessoas sabem da vida das outras. Com riqueza de detalhes. E todo mundo acaba se sentindo em casa... As crianças brincam na rua e fazem barulho, uma cena que é possível apenas onde ainda há liberdade. Liberdade essa que também permite encontrar praticamente tudo em poucos passos. Farmácia, mercadinho, padaria e até curso de idiomas... toda a praticidade para uma vida sem percalços, logo ali, na esquina!

A culinária é outro ponto forte. Os diversos restaurantes transformaram a Vila Planalto num paraíso para quem mora e/ou trabalha no Plano Piloto. Nesse itinerário gastronômico, tem espaço para delícias de todos os cantos do Brasil, sem contar nas opções “universais” de fast food e self-service. Em um dos meus recantos favoritos, de cozinha mineira, a dona cumprimenta os clientes na porta e passa em cada mesa para saber da satisfação do seu público. Sem contar no ambiente bucólico, que remete aos cenários de uma fazenda do interior, com seu mobiliário rústico e trilha marcada pelos sons de uma viola. Um convite irresistível para uma prosa regada a cafezinho...

Os moradores mais antigos contam que a Vila já mudou muito, mas sua essência aconchegante tem sobrevivido bravamente com o passar dos anos. Tem problemas? Sim! Infelizmente, o poder público parece ter esquecido que aquele lugar existe, pois quase não se vê investimento na revitalização de ruas e áreas comunitárias de lazer. Outra crítica recai sobre os condomínios de quitinetes que, construídos onde quer que haja um pedacinho de terra, sem o menor planejamento, enfeiam o bairro.

Mesmo com esses entraves, morar na Vila Planalto tem sido uma experiência fantástica. É como estar na fronteira entre o passado e o futuro. É conviver com tantos contrastes e não se sentir apenas mais um na multidão. É perceber que até hoje, mais de seis décadas depois, o bairro manteve o propósito pelo qual foi criado: ser um verdadeiro lar para aqueles que chegam.

quarta-feira, 23 de novembro de 2011

Seguir o próprio caminho



"Nunca se ressinta do sucesso de outro homem, filho. Lembre-se, cada um de nós vive seu próprio destino. Nossas vidas correm todas em vias paralelas - o sucesso dos outros não nos puxa para baixo, e seu fracasso não nos empurra para cima. Concentre-se apenas nos seus próprios boletins escolares e no seu trabalho".

A frase foi retirada do livro "A doçura do mundo", da escritora indiana radicada nos Estados Unidos Thrity Umrigar. Li-o recentemente e, dentre tantas lições que ele pode me oferecer, elejo uma: a necessidade de cada um de nós seguir seu próprio caminho.

É incrível como costumamos nos comparar com os outros. No trabalho, em casa, na sociedade como um todo, estamos sempre em busca de um referencial. Até aí, tudo bem. Bons exemplos devem inspirar nossas atitudes e, quando possível, mudar nossa postura, quebrar nossos paradigmas.O problema é quando nos deixamos levar pela vida dos outros e esquecemos quem nós somos.

Nenhum história é igual a outra. Temos nossas próprias qualidades e limitações, o que verdadeiramente nos torna únicos, especiais. Não podemos nos forçar a um caminho, a uma personalidade, a um estilo de vida, apenas porque esses deram certo para outra pessoa. Não podemos controlar o tempo e esperar que todas as coisas aconteçam dentro do que planejamos, ou mesmo nos impor metas inalcançáveis. Sabe qual o resultado para isso? Frustração.

Certa vez, eu conversava com uma pessoa que dizia se sentir infeliz na profissão, pois nada que havia pensado para sua carreira dera certo. A vida tinha tomado rumos diferentes, a maioria de seus colegas de faculdade eram hoje bem-sucedidos e ela estava dando ainda os primeiros passos em um segmento que, a princípio, nada tinha a ver com o que sonhara.

E eu pensei que comigo também foi assim. A diferença é que fui aprendendo a aceitar o que a vida me dá. Porque não adianta teimar com ela e ficar eternamente olhando para os lados à espreita de algo que, provavelmente, nunca virá. Não é fácil, é claro. Porque muitas vezes nós temos a prepotência de achar que está tudo sob controle e que nada irá contrariar nosso plano "infalível".

A estrada, porém, não chegou ao fim. Há muitos atalhos ainda. O que importa é o que vamos fazer com eles daqui para frente. Podemos ignorá-los, mas, ao mesmo tempo, correr o sério risco de perder nossa felicidade. E então? Que faremos?

Eu escolho e vou lutar pela liberdade de seguir meu próprio caminho, sem me preocupar se quem está ao lado engatinha ou está no auge da corrida. Enquanto houver chão, acompanham-no os passos e, de preferência, bem firmes.

terça-feira, 15 de novembro de 2011

A vida com o tempo

Com o tempo, você aprende que nem todas as coisas são possíveis, que nem todas as pessoas são iguais, que nem todos os finais são felizes. E que não adianta se debater, porque, no fundo, nós não temos mesmo o controle sobre tudo.

Com o tempo, você aprende que há certas circunstâncias inevitáveis e que será em vão se culpar por isso. E você percebe que as experiências - sobretudo as mais difíceis - é que fazem você ser quem é, porque ninguém mais poderia viver o que foi reservado apenas para você.

Com o tempo, você se convence de que não há nenhum motivo especial para ter acontecido isso ou aquilo; você é simplesmente um ser humano, e a dor é sempre uma possibilidade, assim como a alegria plena.

Com o tempo, você se desfaz das máscaras que te aprisionavam e descobre que, por trás de uma muralha de força e compreensão, há alguém frágil e inconformado. E você respira aliviado porque, sim, você não é tão "perfeito" quando imaginava(m).

Com o tempo, você aprende a dizer "não" e, com isso, a ser honesto consigo mesmo. Também começa a dizer "sim" quando a vida te pede mais uma chance, nem que seja para derrotar o medo e provar que é possível levantar outra vez.

Com o tempo, você começa a caminhar de forma mais leve, desfazendo-se do peso trazido por seus questionamentos, fracassos e - por que não? - sucessos. Você continua sonhando, mas já não carrega as expectativas de que tudo se dará da forma como você projeta.

Com o tempo, você percebe, enfim, que não fomos criados para encontrar todas as respostas, fórmulas e razões. A vida é e sempre será um mistério, que não cabe em nós, mas que foi feito para nós. Então simplesmente viva, e tenha a certeza de que isso já é tudo.

sábado, 5 de novembro de 2011

Fique calado(a), por favor!

Eu costumo ser adepta da máxima: "Se você não sabe o que dizer para alguém num momento difícil, fique em silêncio e isso basta". Mas, infelizmente, muitos não agem assim. As pessoas têm necessidade de falar, falar e falar e, por esse motivo, se tornam inconvenientes.

Depois de evitar oportunidades de me expor e respirar "aliviada" pensando que ninguém iria mais querer invadir minha intimidade, toda a expectativa segue pelo ralo. Será que é tão difícil perceber que existem certos assuntos que não merecem ser comentados, muito menos na presença de outros ouvintes? Será que as pessoas acham que é fácil esconder as feridas e responder que "sim, estou bem" apenas para desviar o foco da conversa?

Nessas horas, a vontade que tenho é de sumir, me recolher no refúgio do quarto até que todos finalmente esqueçam o que passou. Ou, no mínimo, dar uma resposta malcriada e deixar a pessoa pagar o preço da sua intromissão.

Não tenho obrigação de dar satisfações de como me sinto e do que pretendo fazer. Nem mesmo sei o que está acontecendo comigo... Não gosto de falar de mim, da minha vida, da minha dor. Não para todo mundo. Alguns podem dizer que externalizar esse turbilhão de sentimentos ajuda. Quem sabe em um outro momento, não agora.

Pode até parecer um comportamento egoísta, ingrato. "Como não retribuir à preocupação das pessoas respondendo como você está?", pensarão alguns. Mas eu sinceramente acho que essa não é a melhor forma de agradecer a alguém por sua atenção ou carinho, até porque quem realmente ama saberá compreender que existe hora para tudo, principalmente para o desabafo.

Meu conselho é o seguinte: se você faz parte desse grupo que, mesmo sem perceber ou com a melhor das intenções, tende a se exceder nos seus comentários e indagações, fique calado(a), por favor! E tenha a certeza de que, quase sempre, isso é o melhor a se fazer.

E então, continua curioso (a)?

>> SUTILMENTE

Composição: Samuel Rosa / Nando Reis

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
Quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
Quando eu estiver fogo
Suavemente se encaixe

E quando eu estiver triste
Simplesmente me abrace
E quando eu estiver louco
Subitamente se afaste
E quando eu estiver bobo
Sutilmente disfarce
Mas quando eu estiver morto
Suplico que não me mate, não
Dentro de ti, dentro de ti

Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti
Mesmo que o mundo acabe, enfim
Dentro de tudo que cabe em ti

sexta-feira, 4 de novembro de 2011

Notícias vazias



Nos bancos da faculdade, aprendi que o inusitado é um dos fatores que definem o que é ou não notícia. Tem até uma frase, famosa entre os profissionais de comunicação, que diz que "Quando o cão morde o homem, não é notícia; quando o homem morde o cachorro, é notícia".

Não sei o que estão fazendo desse conceito. Mas o fato é que as notícias têm despertado cada vez menos o meu interesse. Tem portal na Internet que leva esse critério ao pé da letra e delimita uma seção exclusiva para assuntos bizarros. Pessoas com comportamentos estranhos, animais com anomalias genéticas, acidentes inacreditáveis... O grotesco tem espaço garatindo na mídia.

No meio do bombardeio de fatos "curiosos", também imperam informações sem qualquer revelância, apenas porque dizem respeito a "personalidades". É a atriz que deixa celulite à mostra, é o cantor que é visto em um bar tomando uma cerveja gelada com os amigos, é o apresentador de TV correndo na praia e dando uma pausa para uma água de coco... "Vejam, eles são como nós!", alardeiam as revistas de celebridades. Isso não é óbvio?

A impressão que tenho é que o mundo está completamente anestesiado. É tanto lixo despejado sobre as mentes das pessoas, que, aos poucos, elas vão perdendo a capacidade de raciocício crítico e, se bobearem, sua própria autonomia. E isso vai desde as coisas mais simples, como copiar o visual da personagem popular da novela ou assistir a determinado programa só para não ficar de fora das rodinhas, até imaginar que ganhar muito dinheiro independe de esforço ou estudo, que basta ter um pouco de sorte e simpatia ou dar o velho "jeitinho brasileiro". Se os meios de comunicação mostram isso, então é verdade. É, Brasil... A gente se vê por aqui!

É uma pena que coisas realmente interessantes tenham tão pouca repercursão. Projetos que estimulem a criatividade de crianças e adolescentes, iniciativas que valorizem a vida e a família, propostas políticas que tragam benefícios para a população, lugares escondidos que mereçam ser visitados, ações de sustentabilidade vividas na prática... Tudo é mostrado como se fossem casos isolados, inéditos, quase beirando ao bizarro. Pauta fria, ou a "boa notícia" do dia. Enquanto isso, gastam-se tempo e dinheiro com factóides que não acrescentam nada. É a desonesta lógica da audiência, ou do velado desserviço público.

DICA: O filme "Uma manhã gloriosa", de Roger Mitchell, conta a história de uma produtora de TV que tem a missão de levantar a audiência de um jornal matinal. Para isso, ela lança mão de pautas de relevância duvidosa, mas que prometem agradar o público. Uma crítica que rende algumas gargalhadas.

terça-feira, 1 de novembro de 2011

Sonhar é universal



Nessa semana, assisti ao filme “O Palhaço”, de Selton Mello. Já esperava um roteiro inteligente, repleto de significados, mas saí da sala de cinema encantada com a história e os personagens. Humor na medida certa; participações surpreendentes de atores consagrados; trilha sonora marcante; ambiente lúdico, bem a cara do Brasil... Poderia passar minutos listando qualidades técnicas, mas um aspecto retratado no longa-metragem se sobressaiu: a capacidade de sonhar, tão bem expressada na vida do palhaço Pangaré, interpretado pelo ator e diretor Selton Mello.

Em meio à dura realidade do interior do país, junto com a trupe do Circo Esperança, o artista Benjamim – o Pangaré – encarava, a cada espetáculo, o desafio de extrair risos da plateia. Mas ele achava que já não tinha mais tanta graça assim... Na verdade, o jovem andarilho travava um embate consigo mesmo, buscava sentido para a vida além das lonas. Seu sonho? Ter uma carteira de identidade e um CPF, pois tudo que ele sabia sobre si estava registrado numa certidão de nascimento velha e rasgada, que, para o mundo, em determinadas circunstâncias, não tinha tanta validade. Além disso, ele tinha um objeto de desejo: um ventilador. Uma perfeita metáfora de que sonhar é universal.

Para tornar concreta sua imaginação, Pangaré precisou romper algumas “fronteiras”; a principal delas, a do medo. Não é fácil sair da zona de conforto, trocar o certo pelo duvidoso. Mas toda mudança envolve riscos e perdas; são etapas que não podem ser puladas. Uma boa dose de coragem é necessária para desbravar o desconhecido, mesmo que nosso destino final seja, ironicamente, o ponto de partida.

Certa vez, uma amiga escreveu que é preciso aprender a não criar expectativas. Achei a frase controversa, um pouco ousada talvez. Como viver sem criar expectativas? E para onde iria nossa capacidade de sonhar? É certo que ninguém deseja experimentar a dor e a frustração ao se lançar ao novo. Mas continuo a acreditar que nenhuma pessoa encara uma nova fase já se antecipando ao sofrimento, senão, provavelmente, não daria esse passo.

O fato é que nós somos movidos por sonhos. É esse o combustível que nos faz buscar uma vida melhor e mais digna; que nos instiga a mudar o rumo quando já não nos sentimos mais felizes e completos; que nos faz, enfim, rever nossos conceitos e – por que não? – descobrir em nós capacidades tão especiais que nem poderíamos imaginar. Sonhar, como diz o ditado, não faz mal. E o melhor é que, como poucas coisas nessa vida, está ao alcance de todos.

Foto: Divulgação

sábado, 1 de outubro de 2011

A dor

O que a gente faz com a dor? Não falo da dor física, porque nas farmácias, não faltam remédios para curar, ou pelo menos amenizar, aquela sensação incômoda que vai tomando conta do nosso corpo. A dor a que me refiro é aquela causada por uma ferida aberta na alma, no mesmo lugar de uma outra que agora, sabe-se, ainda não fora cicatrizada.

Ter que seguir em frente é muito difícil, juntar os "cacos" e se fazer "inteiro". Parece que não há palavras ou atitudes que confortem. Nenhuma explicação é válida nessas horas. Pior ainda quando não há explicação... O acaso? A vontade de Deus? A ciência? Onde estão as repostas? Não é justo não conseguir encontrá-las... de novo!

A gente não sabe mesmo o que fazer diante da dor. A gente se sente tão impotente e frágil. A gente não sabe se chora para descarregar o peso, se olha para o lado e se distrai com outras questões, se agradece porque sempre pode ser pior, se desiste, se finge que esquece, se fica em silêncio, se aceita um abraço ou se esconde dos olhares alheios...

A gente só sabe que, na dor, a gente se perde. A gente se olha no espelho e se pergunta: "E agora?". Mais uma vez, não há respostas. E a única saída é esperar que os dias passem porque nem sempre há a possibilidade da escolha e você é praticamente obrigado a se conformar. O melhor mesmo seria pegar essa dor, colocar numa caixinha e jogar bem no fundo do mar... Mas se fosse algo assim tão simples, essa com certeza não seria a vida real.

quinta-feira, 15 de setembro de 2011

Metades de mim

Para mim, a música é uma das melhores formas de se expressar. E agora, entre tantas, há uma que diz muito. Na verdade, trata-se de uma poesia... profunda, rica, simples.

Metade
Oswaldo Montenegro

Que a força do medo que tenho
Não me impeça de ver o que anseio

Que a morte de tudo em que acredito
Não me tape os ouvidos e a boca
Porque metade de mim é o que eu grito
Mas a outra metade é silêncio.

Que a música que ouço ao longe
Seja linda ainda que tristeza
Que a mulher que eu amo seja pra sempre amada
Mesmo que distante
Porque metade de mim é partida
Mas a outra metade é saudade.

Que as palavras que eu falo
Não sejam ouvidas como prece e nem repetidas com fervor
Apenas respeitadas
Como a única coisa que resta a um homem inundado de sentimentos
Porque metade de mim é o que ouço
Mas a outra metade é o que calo.

Que essa minha vontade de ir embora
Se transforme na calma e na paz que eu mereço
Que essa tensão que me corrói por dentro
Seja um dia recompensada
Porque metade de mim é o que eu penso mas a outra metade é um vulcão.

Que o medo da solidão se afaste, e que o convívio comigo mesmo se torne ao menos suportável.

Que o espelho reflita em meu rosto um doce sorriso
Que eu me lembro ter dado na infância
Por que metade de mim é a lembrança do que fui
A outra metade eu não sei.

Que não seja preciso mais do que uma simples alegria
Pra me fazer aquietar o espírito
E que o teu silêncio me fale cada vez mais
Porque metade de mim é abrigo
Mas a outra metade é cansaço.

Que a arte nos aponte uma resposta
Mesmo que ela não saiba
E que ninguém a tente complicar
Porque é preciso simplicidade pra fazê-la florescer
Porque metade de mim é platéia
E a outra metade é canção.

E que a minha loucura seja perdoada
Porque metade de mim é amor
E a outra metade também.

terça-feira, 13 de setembro de 2011

Falsos juízes




"Foi você sim!", gritava do outro lado da linha uma arrogante senhora enquanto a atendente tentava explicar, com calma, que não, definitivamente não havia sido ela que lhe havia passado o número errado da central de atendimento. A senhora insistia com seu julgamento até que a atendente, em legítima defesa, alterou a voz e pediu que ela lhe deixasse falar. Ao que parece, a senhora se conteve um pouco, mas, poucos minutos depois, como uma criança birrenta, desligou o telefone sem dar muitas explicações.

Essa cena, eu presenciei hoje de manhã numa central de exames da cidade. E fiquei pensando em como nós podemos ser tão cruéis uns com os outros. "Ah, porque eu acho isso de você!"... "Olha, você está errado"... "Eu sei de tudo, tenho anos de experiência, você é que não sabe da vida...". Afinal de contas, pra que perder o tempo dialogando? Nós somos sempre os donos da verdade, não é mesmo? O outro é quem sempre tem de engolir as nossas opiniões. Apontar o dedo e julgar é sempre mais fácil do que abrir a mente para compreender e tolerar, ou simplesmente aceitar, mesmo a contragosto, que nem tudo funciona da forma como queremos, sobretudo quando se trata de pessoas.

O julgamento é a raiz de muitos males. E a razão é simples. Normalmente, o julgamento é carregado de injustiça e hipocrisia. Fala-se de algo que não se conhece a fundo. São sempre suposições, especulações, aparências... E o que estava apenas no plano das ideias converte-se em verdade absoluta. O resultado é que uma das partes (a que foi falsamente julgada) pode ter sua reputação jogada na lama, o coração despedaçado... Alguns, dependendo da gravidade do julgamento, podem até perder o sentido da vida...

Há aqueles que conseguem seguir seu caminho sem se importar com o que os outros pensam. Todos recomendam isso (uma receita infalível!), mas são poucos os que conseguem. Acho que desde que o mundo é mundo, o homem leva em consideração o que o outro pensa, e isso é bom... mas até certo ponto. Nossos valores são bens inalienáveis, que não se podem corromper. E há um detalhe sutil, que muitos parecem ter esquecido, chamado respeito. Graças a ele, as pessoas conseguem conviver, apesar das diferenças. Se não há, prepare-se para um caminho de pedras!

Precisamos finalmente entender que não somos juízes! Não temos o direito de impor sentenças a ninguém... Quando agirem assim conosco, precisamos nos defender, mostrar o nosso lado, como fez a atendente daquela central de exames. Quase sempre, é claro, "a senhora arrogante vai bater o telefone em nossa cara". Nesses casos, infelizmente não há muito o que fazer, a não ser seguir tranquilo e convicto, sem dar muitas explicações...

terça-feira, 16 de agosto de 2011

Mãe...



"Se você vier pro que der e vier comigo, eu lhe prometo o sol, se hoje o sol sair ou a chuva, se a chuva cair...". Por um rápido instante, quase um lapso, essa linda melodia de Geraldo Azevedo me veio à memória. E com ela, a lembrança da minha mãe e das vezes em que a vi sentada no sofá lendo um livro e escutando uma boa música.

Minhas recordações a seu respeito são vagas, pouco nítidas. Mas essa é mesmo a cena que eu gostaria de guardar. A de uma mulher bonita, inteligente e sensível. Uma pessoa iluminada e cheia de amor. Alguém firme em suas atitudes e opiniões.

Às vezes me pego pensando em como eu seria se a tivesse aqui ao meu lado. Como seria nosso relacionamento, nossos diálogos e até conflitos... Muitos dizem que me pareço com ela, tanto fisicamente quanto no jeito de ser. Não tenho dúvida que sim.

A meiguice, o sorriso, a sede de justiça, a serenidade no olhar, o amor incondicional aos seus queridos. O silêncio e o choro contido tantas vezes. O desejo constante de acertar. A impaciência e o drama diante de algumas situações que a vida nos apresenta. Sim, há traços dela em mim que, hoje, já amadurecida, consigo identificar.

Diferenças? Provalmente muitas. Não sou tão vaidosa quanto ela, embora tenha me esforçado, não simplesmente para imitá-la, mas para me sentir bem comigo mesma. Pode ser que no fundo seja a força da hereditariedade gritando em mim... Também não sou tão desinibida como ela; há muito já perdi o jeito para dançar, e isso ela fazia como ninguém...

Mas se tem algo que ela era e que eu almejo para sempre ser é forte. Mas essa força de que falo não é apenas a de se manter de pé quando vem uma provação. Até porque a própria circunstância de perdê-la cedo e, o pior, de não tê-la comigo nas horas mais importantes da minha vida, já representa um grande "teste" para mim. Eu falo de uma força interior de quem não teme as consequências das próprias decisões. A força de estar disposta a fazer o outro feliz, nem que isso lhe cause muitas lágrimas e dores. A força de quem dá a vida, não para ganhar aplausos ou elogios públicos, mas porque ama.

Para mim, esse foi seu maior ensinamento. E como tantas vezes escrevi para ela na infância, hoje eu reafirmo: "Mãe, eu te amo! Cada instante da sua vida foi um presente de Deus para mim.".

quarta-feira, 6 de julho de 2011

Escolhas

Chega um momento em que você começa a se questionar: “o que estou fazendo da minha vida?”. Você se olha no espelho e percebe que, há muito, já não tem mais aquele mesmo brilho no olhar, e aquilo que deveria ser motivo de alegria e estímulo se torna um verdadeiro fardo.

Com certeza, não foi fácil chegar a essa indagação. Em muitos momentos, você tentou silenciar a voz que gritava no seu interior dizendo que poderia não ser aquele o caminho. Você não desiste facilmente. Precisa de motivos realmente fortes para mudar de rumo. Dá a si mesmo e aos outros muitas e muitas chances, lutando para acreditar que isso é só uma fase, que tudo pode melhorar.

Só que você começa a se “acostumar” com tristezas, dores, incompreensões, ausência de carinho e atenção... Por diversas vezes, se culpa, achando que o problema está em você, que não tomou iniciativas o suficiente para reverter o quadro. Você passa a achar que ser bom é isso: estar sempre disponível para o outro, anular-se... Tudo pela sadia convivência... nem que pra isso você precise silenciar o que pensa só por medo de não perder o outro, de causar algum constrangimento ou ruptura “sem motivo”...

Mas chega uma hora que não dá mais. Você já está esgotado, tentou de tudo, pelo menos o que lhe parece possível. Você sente raiva, finge que não está vendo, escreve "recadinhos", tenta uma conversa olho no olho, chora... Você se cansa de sorrisos forçados, diálogos vazios e cobranças descabidas... Aí uma luzinha acende: “Espera um pouco... Por que estou fazendo isso comigo? Estou lutando sozinho contra uma situação que não depende só de mim!”.

São Francisco de Assis foi muito sábio quando, em oração, escreveu: “é dando que se recebe”. E vice-versa, certo? Afinal, se não recebo amor, como posso continuar retribuindo? Se não sou perdoado, como serei livre para dar o perdão? Se não sou compreendido, como poderei compreender? Se não sou ouvido, como darei a alguém a oportunidade de falar? É um ciclo que só se movimenta se houver o comprometimento de todas as partes envolvidas. Caso contrário, ele estagna, deixa de existir e se esvai como a cinza...

Penso em como Deus pode ser tão paciente conosco, ao ponto de não desistir até nosso último suspiro. Por outro lado, sempre ouvi dizer que Ele não é “mal-educado”; do contrário, só entra em nosso coração e transforma a nossa vida se assim quisermos. E nós somos livres para escolher. O Senhor nunca obrigou ninguém a segui-Lo. Somente um coração cheio de amor e desprendimento é capaz de deixar o outro seguir, mesmo que por caminhos que – se sabe – serão cheio de pedras e lágrimas. Não se pode obrigar ninguém a nada, nem mesmo a amar. Nesse caso, talvez o melhor seja retirar-se, partir para uma nova estrada e esperar que, no final, todos sejam felizes. E se isso não acontecer, não há dúvida de que também foi questão de escolha.

segunda-feira, 27 de junho de 2011

O poder do "sim" e do "não"



Nesses dias estava lendo uma entrevista com uma atriz global. Em seu relato de dificuldades até alcançar o tão sonhado pedestal da fama, uma frase me chamou a atenção: "Um 'não' não muda nada. Só o 'sim' tem esse poder". Sábias palavras!

Infelizmente, muitos de nós não pensamos assim e ficamos completamente desestimulados diante das negativas que a vida apresenta. O "não" ressoa em nossas mentes por bastante tempo, cria raízes e, muitas vezes, faz brotar mágoa, desespero e dor.

Mas se formos refletir de maneira racional, realmente, um "não" muda em nada a nossa condição. Claro que afeta as nossas expectativas, mas é justamente essa negação que nos dá a possibilidade de testar nossa capacidade de persistência ou mesmo repensar nosso caminho.

Imagino que uma vida repleta de "sins" seria bem mais fácil, mas, por outro lado, completamente sem graça. Já pensou se tudo fosse programado segundo a perspectiva de cada um? O mundo seria uma confusão geral, e nós seríamos mais prepotentes, egoístas e despreparados.

E o que dizer do "talvez"? Afinal, sempre há saídas além dos extremos... Para alguns, ele é sinônimo de ilusão. "Pra que alimentar uma ideia que pode nunca se concretizar?". Sim, isso é possível... desde que você não tente. Eu prefiro pensar que, por trás desse advérbio, há uma pontinha de esperança de que as coisas podem dar certo um dia e, por isso, corro atrás. Se não der, paciência! Vamos nós de novo ao ponto de partida e, mais, com a oportunidade de construir algo completamente inusitado.

A vida não é uma caixinha de surpresas? Que tal, então, desembrulhá-la com o coração aberto a acolher quantos "sins" e "nãos" vierem, sem pressões, medos ou angústias? A nossa atitude diante de cada uma dessas respostas é o que, de fato, traz mudanças significativas para o nosso futuro. Além do mais, sempre existe um "talvez"...

quarta-feira, 15 de junho de 2011

A ambiguidade do tempo



Na manhã de hoje, uma amiga minha escreveu em seu perfil: "Quero que o ano acabe logo!". Embora tenha sentido uma enorme curiosidade de perguntar o porquê da frase, me contive e resolvi pensar no que leva as pessoas a desejarem que os dias passem mais depressa.

Alguns, talvez, querem se livrar de alguma pendência, que se arrasta e os impede de começar um novo projeto. Outros, quem sabe, esperam por uma data no ano seguinte que promete revolucionar suas vidas: uma viagem, o casamento, a chegada de um filho... São motivos alegres ou tristes, mas normalmente cheios de esperança e ansiedade.

É engraçado pensar que ainda existe quem pense que o tempo passa devagar. Com tantas atividades, o homem parece ter reduzido sua jornada diária pela metade. Porém, por mais que se façam cálculos, projeções e agendamentos, o tempo é e sempre será relativo. Porque o tempo é feito das circunstâncias, do imprevisível, e é também fruto dos nossos sentimentos e decisões.

A tecnologia é um exemplo dessa ambiguidade. Na mesma medida em que busca soluções para prolongar a vida humana, apresenta "facilidades" que nos tiram a autonomia, a disposição, a saúde, o tempo, a vida... Parece louco, não é mesmo? Mas é real.

Há aqueles que anseiam tanto pelo futuro que não aproveitam o presente, sem imaginar que a forma com que lidam com o hoje influenciará diretamente o amanhã. Existe ainda o movimento contrário: o das pessoas que vivem presas ao passado e vão incorporando seus traumas de tal forma que não se dão a chance de experimentar um novo tempo.

O tempo, esse mistério eterno... Complexo como só nós, seres humanos, somos. Por isso, ele não se explica, não se mede, não se molda tão simplesmente ao nosso querer. E como todo mistério, deve apenas ser acolhido e desfrutado em toda sua plenitude.

sábado, 11 de junho de 2011

A difícil arte da perseverança

Parece fácil dizer "tente outra vez" quando a derrota não é nossa. Mas quando é o nosso calo que aperta... a coisa muda de figura. A verdade é que ninguém gosta de perder. Perder significa dar de cara com nossos limites e, até que isso aconteça, nos julgamos "bons demais", não é mesmo? Das dores advindas de um fracasso, sobrevém a necessidade de superação. Mas e quando esses fracassos são sucessivos? Quando você insiste, persiste, mas não consegue?

A primeira ideia, e a mais confortável, é desistir. Desistir é mais fácil que recomeçar. O desgaste, o medo, a pressão psicológica (sua e dos outros) tornam mais árdua essa tarefa de, mais uma vez, se reerguer, dar a cara a bater, se lançar... E esse grande desafio, só VOCÊ pode encarar. Por maior que seja o apoio que receba, na hora "H", são apenas VOCÊ e SEU OBJETIVO. É o momento de você mostrar que está preparado e que não foi em vão o seu esforço.

Tudo parece perfeito, até que um pequeno deslize desestabiliza tudo e leva você a uma sucessão de erros... erros bobos e, por isso, imperdoáveis. Daí você desmonta, quer chorar, fugir dali... Enquanto isso, perguntas não cessam de martelar sua mente: O que pode ter dado errado se ensaiei tudo direitinho? Porque não consigo mostrar minha capacidade a quem realmente precisa saber?

Silêncio, desespero, lágrimas e uma triste conclusão: você não confiou em si mesmo. A insegurança é a grande responsável por minar as forças de qualquer ser humano. Principalmente daqueles que não admitem falhar. A saída? Calma, dirão alguns. Um milagre, talvez. Quem sabe a perseverança? Perseverança... talvez seja esse o caminho. Se não lhe resta outra solução, escolha tentar outra vez. E espere para ver.

terça-feira, 24 de maio de 2011

Ela me faz tão bem...

"Só se tem saudade do que é bom, se chorei de saudade não foi por fraqueza, foi porque eu amei...". É verdade quando alguém diz que, para cada página da vida, há uma música. Se existe um trecho que muito significa para mim é esse, porque, ao contrário do que muitos pensam, é gostoso sentir saudade.

Nunca ouvi alguém dizer que sente falta de um momento que não foi bom. A saudade vem para nos recordar quão maravilhoso foi um determinado instante, por mais insignificante que ele pareça a outros olhos.

Tenho saudade de coisas simples. Um feriado na praia na companhia de familiares e amigos, as brincadeiras num chão de terra batida, o ar de liberdade desfrutado numa cidade do interior, o frio na barriga ao encontrar o primeiro namorado, a emoção de dizer "sim" no altar... Cada pedacinho da minha história me faz lembrar o quanto fui e sou feliz.

Falando assim até parece que a vida tem sido um mar de rosas... Ledo engano. Algumas passagens foram muito difíceis; diria até que quase insuportáveis. Mas passaram. Como acontece sempre. Dessas eu não tenho saudade alguma, mas reconheço o quanto foram importantes para eu ser quem sou. É mais leve caminhar assim...

Desejo ter a graça de uma boa memória ao envelhecer... Encerrar meus dias nesse mundo com a alma viva de lembranças... Pois enquanto houver saudade, existirá razão de ser e aqui estar...
"Ela me faz tão bem, ela me faz tão bem, que eu também quero fazer isso por ela...".

segunda-feira, 2 de maio de 2011

Dois lados

Eu vejo um mundo sombrio. Guerras, mortes, corrupção, fome, mentira. Eu vejo pessoas sem caráter e que mantêm as aparências acima dos valores. Eu vejo a injustiça, a desordem e o desrespeito conduzirem as relações humanas. Eu vejo a natureza destruída e o homem aniquilado por suas próprias atitudes. Eu vejo a miséria do corpo e da alma. Eu vejo o poder passar por cima da honestidade. Eu vejo a falta de diálogo que gera incompreensão e falsos julgamentos. Eu vejo o egoísmo que nos torna cegos perante os sentimentos alheios. Eu vejo a cobiça, a ganância e o apego às coisas que passam. Eu vejo a frieza dos corações e a falta de perdão que geram dor. Está tudo tão confuso... Tenho medo desse mundo e do que ele provoca nas almas. Sinto arrepios quando penso no futuro das próximas gerações. Já sinto angústia pelo hoje. Nem quero imaginar como vai ser o amanhã...

***

Eu vejo um céu azul e radiante. O nascer do sol me traz a esperança de que o dia será bom. Eu vejo a solidariedade humana diante da tragédia de seus semelhantes. Eu vejo o sorriso de uma criança que traz consigo uma paz tão grande... Eu vejo casais passeando de mãos dadas, à espera de um futuro harmonioso e cheio de amor. Eu vejo amigos que caminham lado a lado e representam com perfeição o significado da palavra lealdade. Eu vejo o colorido de um prato e sinto o prazer de poder saboreá-lo com calma. Eu vejo um filme na TV e me emociono ao constatar que os melhores enredos são baseados em fatos reais. Eu sinto a brisa no rosto, o cheiro das flores, o frescor da água e penso em como Deus foi generoso em sua criação. Eu vejo a vida nascer todos os dias e agradeço. Sempre.

segunda-feira, 18 de abril de 2011

Viver de sonhar

Hoje eu acordei com vontade de transformar alguns sonhos em realidade. Não que, antes, eu tivesse desistido. Porém, essa rotina atribulada e sistemática que levamos, aos poucos, vai minando nossa capacidade de idealizar e de acreditar que somos capazes de tirar os planos do papel.

É sempre um empecilho que bate à porta. Uma hora, é a falta de dinheiro; em outra é o tempo (ora cedo, ora tarde demais). De vez em quando, é a dúvida, ou mesmo a nossa pouca disposição de transpor barreiras. Isso tudo sem falar no medo, o grande vilão que surge exatamente nos momentos em que precisamos tomar determinadas decisões. Infelizmente, na maioria das vezes, deixamos que esses fatores nos vençam, ou melhor, derrotem. E, quase sem sentir, tornamo-nos coadjuvantes daquela que deveria ser a nossa própria história...

Não quero que os anos passem sem que eu perceba. E algo aqui dentro me inquieta a fazer algo para sair da "inércia". Preciso me descobrir, desvendar o mundo. A vida não pode ser apenas uma ordem natural das coisas. Parece óbvio, mas se não arriscarmos, como saberemos? Para cada tentativa que não deu certo, há um recomeço. Eu estou disposta a recomeçar, e você?

quinta-feira, 31 de março de 2011

Esperas...



Às vezes, tenho a impressão de estar caminhando sem objetivo. Fico o tempo inteiro tentando me policiar para não pensar assim, pois é preciso ter paciência e todos esses sentimentos que as pessoas citam quando você se encontra angustiada. Só que palavras assim não tem consolado a minha alma nesse momento. Fico frustrada porque vejo que as coisas estão andando num ritmo que não corresponde às minhas expectativas. É provável que eu esteja acostumada à rapidez dos últimos dois anos e agora, que as coisas parecem ter se estabilizado - ou melhor, estacionado -, sinto falta das mudanças, das surpresas.

Dizem que, para tudo, Deus tem um tempo, que é totalmente diferente do nosso. Mas, humana como sou, tenho limitações em viver essa espera, com a qual me deparo vez por outra... Talvez porque eu ainda não tenha aprendido. Talvez, de fato, eu precise confiar mais. Talvez o que Deus me pede é justamente um abandono total em Suas mãos, para que Ele possa ser verdadeiramente a luz que vai guiar os meus passos. Talvez eu ainda me perca naquilo que eu acho que é o melhor e não tenha conseguido enxergar o que Ele tem preparado para minha vida.

Agora, que ainda estou muito confusa, sinto que o melhor é silenciar. Desligar-me de tudo o que me angustia, seja no lado pessoal ou profissional. Descobrir o que Deus quer de mim, e também o que eu almejo. Realizar o que está ao meu alcance. Parar de me culpar pelas situações que não estão sob meu controle. Não sofrer por um futuro que, naturalmente, é incerto. E o fazer o que me parece mais prudente, apesar de difícil: ESPERAR. Não por ser mais fácil ou mais cômodo, mas porque em mim, mesmo aos troncos e barrancos, ainda sobrevive a fé de que o melhor está por vir e de que Deus cuida dos seus...

terça-feira, 22 de março de 2011

O tudo e o nada

Há poucos semanas, assisti ao filme "Moscatti, o doutor que virou santo". O longa traz a história de São José Moscatti, um médico italiano que viveu em Nápoles e se dedicou inteiramente aos enfermos e pobres, vendendo todos os bens que possuía para comprar remédios e alimentos aos necessitados. Em certa ocasião, ao reencontrar um velho amigo, Giorgio - este também médico, mas que, ao contrário, optou pelo "glamour" da profissão -, o resignado Moscatti, a essa altura da vida já "falido", falou-lhe: "Encontrei tudo no nada".

Essa frase, curta e aparentemente sem sentido, me causou uma certa inquietação, que palpita até os dias de hoje. Como assim encontrar tudo no nada? De onde vem essa capacidade de abrir mão da própria vida para assumir uma postura de completa doação aos outros, recebendo "nada" em troca? Sim, porque não foi somente às coisas materiais que ele renunciou, mas até à possibilidade concreta de construir uma bela história ao lado da pessoa que amava. Sua missão era tão grande que exigia dele todo esforço e tempo. Sem murmurar e por livre arbítrio, ele abraçou o chamado de Deus e tornou-se exemplo para os homens.

Moscatti encontrou tudo naquilo que a maioria considera nada: pobreza, cansaço, doença e até solidão. E para nós, qual será o significado de tudo? Dinheiro, sucesso, nós mesmos e nossos próprios interesses, paz interior, saúde, amigos, família? Onde estamos depositando nosso tesouro? Será que valorizamos o que realmente importa? E o que realmente importa para cada um de nós?

Algumas vezes, me pego refletindo sobre isso. Percebo que perco ainda tanto tempo com coisas desnecessárias... O que vou ser (e ter) no futuro? O que os outros pensam de mim? Por que essa situação é assim, não assado? A vida é tão mais que isso... Há tantas coisas "lá fora" - fora de nós mesmos, do que supomos, do que esperamos - que precisam ser valorizadas... Coisas essas que só percebemos na medida em que buscamos, questionamos, recomeçamos e descobrimos a que viemos.

Nesse momento, é isso que tenho feito: procuro conhecer minha missão nesse mundo. No caminho, determinadas "setas" têm me direcionado. Algumas convicções, muitas dúvidas... No meio, uma certeza tem surgido: desejo viver tudo o que Deus reservou para mim. Corajosamente. Mesmo que, para isso, eu tenha de perder algumas coisas, encontrando meu tudo naquilo que, para muitos, representa o nada.

sábado, 5 de fevereiro de 2011

É hoje o dia da alegria!



Se pensássemos nas oportunidades que a vida nos dá de sermos felizes, não perderíamos tanto tempo com coisas pequenas. É hoje o dia da alegria e ele foi reservado para mim e para você. É uma dádiva, simples assim. Por que somos ainda tão resistentes?

Hoje, depois de alguns meses, estou de volta ao seio da terra natal. E é tão bom rever a família e saber que, o tempo passa, mas o amor permanece. A recepção criativa, o abraço caloroso, as palavras confortantes... Tudo isso é um sinal de que, sim, vale a pena estar vivo e lutar todos os dias contra os obstáculos que surgem pelo caminho.

Vencer sempre? Não necessariamente. As derrotas nos ensinam muitas coisas que não enxergamos nas vitórias. A humildade é uma delas. Reconhecer que nem sempre serei o melhor, que as minhas escolhas serão as mais bonitas ou que as minhas atitudes serão as mais sãs e corretas. Mas é só assim que amadurecemos: contando uma nova história, sem jogar fora os rascunhos. Deixando que as cicatrizes fechem, mas nunca se apaguem. Não sentindo vergonha do que já passou e que, por algum motivo, não foi tão bom quanto se esperava.

É hoje o dia da alegria! É hoje porque estou com saúde, tenho pessoas que me amam e, de alguma forma, me completam. É hoje porque Deus me concedeu mais uma chance de estar aqui, escrevendo esse texto e agradecendo pelo imenso presente que é a vida...

sexta-feira, 28 de janeiro de 2011

Na correria de sempre...


Daí que vai fazer quase um mês que não escrevo aqui no blog... Continuo acessando diariamente os meus links favoritos, mas a correria tem tirado a minha coragem de escrever nesse espaço que eu tanto gosto. Tudo bem. O mundo não acabou. Daqui a pouco as férias chegam e eu vou poder respirar mais devagar. \o/

Apesar de correr rapidamente, essa semana está interminável para mim (deu pra entender?). É que fiz as últimas aulas de direção (eu falei últimas?) e desejei como nunca me livrar delas. Ganhei um pouco mais de confiança (já falei dos meus medos aqui), mas não estou 100%. Não sei se o problema é com o horário (ninguém merece dirigir ao suave calor de meio-dia e ter de engolir qualquer coisa em vez de almoçar calmamente,) ou se é comigo mesmo. Mas não tem mais como fugir. Amanhã, às 6 da matina, estarei lá de prontidão para fazer a tão temida prova...

Semana que vem (ufa!) é a última antes de viajar de férias e ver algumas das pessoas mais queridas da minha vida. São muitas coisas para resolver até lá e eu espero conseguir fazer tudo a tempo... Isso, inclusive, me faz pensar que nós, mulheres, somos mesmo heroínas, porque dar conta de uma jornada de trabalho semanal de 40 horas, casa, marido e filhos (tá, eu pulo essa parte porque ainda não os tenho) não é brincadeira!

Mas desistir é que não vou. Jamais! Já dizia São Paulo: "quando estou mais fraco, então é que sou forte".