sexta-feira, 16 de julho de 2010

Tudo a seu tempo...

Os passos já não têm mais a rapidez de outrora. A postura, no entanto, continua altiva, com a firmeza de quem muito já viveu. Ao contrário de muitos, que com o passar dos anos (e das duras experiências) se tornam amargos e desgostosos, ele, ao que parece, se transformou em um ser ainda mais delicado e sensível. Seu nome? Poderia ser João, Francisco, José... O que de fato importa é que ele fez diferença, ainda que mínima, para quem teve a oportunidade de conhecê-lo. Eu tive.

Encontrar o chamado homem cordial tem sido como achar uma agulha no palheiro, sobretudo nos dias de hoje. Cordialidade não se resume a ser gentil. É mais que isso. É agir com o coração e saber ouvir. E ouvir as pessoas é talvez a melhor forma de valorizá-las.

É por isso que gosto tanto de conversar com os mais velhos. Além da bagagem de histórias que trazem consigo – umas engraçadas, outras meio trágicas -, essas pessoas têm um ritmo diferente do nosso. São pacientes e ricos em detalhes, o que pessoalmente me fascina. São seres literalmente de outro tempo. E que saudade desse tempo, no qual a diversão era conversar livremente nas calçadas, visitar a casa de parentes, ir à feira e comprar o alimento fresco... Tudo sem pressa.

A pressa me corrói. É por causa dela que não paramos para dar atenção suficiente a quem amamos. É por conviver com ela que não conseguimos passar uma tarde ouvindo aquele CD que tanto apreciamos. É em função dela que sempre procuramos o mais prático, o mais rápido, e nos alimentamos mal, e adoecemos e morremos... cedo!

E quando eu penso que não há como fugir dessa loucura, Deus coloca diante de mim alguém como esse senhor de que falei no início. Em poucos minutos de conversa, aprendi que, apesar de tudo, vale a pena ser honesto, sensível, trabalhador. Vale a pena ser feliz e deixar que a vida corra em seu próprio ritmo. E quando essa corrida estiver próxima à reta final, devemos, como ele, ter o mesmo brilho no olhar e o sentimento de missão cumprida.

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E PARA QUEM TIVER TEMPO DE OUVIR...

Oração Ao Tempo
Caetano Veloso

És um senhor tão bonito
Quanto a cara do meu filho
Tempo tempo tempo tempo
Vou te fazer um pedido
Tempo tempo tempo tempo...

Compositor de destinos
Tambor de todos os ritmos
Tempo tempo tempo tempo
Entro num acordo contigo
Tempo tempo tempo tempo...

Por seres tão inventivo
E pareceres contínuo
Tempo tempo tempo tempo
És um dos deuses mais lindos
Tempo tempo tempo tempo...

Que sejas ainda mais vivo
No som do meu estribilho
Tempo tempo tempo tempo
Ouve bem o que te digo
Tempo tempo tempo tempo...

Peço-te o prazer legítimo
E o movimento preciso
Tempo tempo tempo tempo
Quando o tempo for propício
Tempo tempo tempo tempo...

De modo que o meu espírito
Ganhe um brilho definido
Tempo tempo tempo tempo
E eu espalhe benefícios
Tempo tempo tempo tempo...

O que usaremos pra isso
Fica guardado em sigilo
Tempo tempo tempo tempo
Apenas contigo e comigo
Tempo tempo tempo tempo...

E quando eu tiver saído
Para fora do teu círculo
Tempo tempo tempo tempo
Não serei nem terás sido
Tempo tempo tempo tempo...

Ainda assim acredito
Ser possível reunirmo-nos
Tempo tempo tempo tempo
Num outro nível de vínculo
Tempo tempo tempo tempo...

Portanto peço-te aquilo
E te ofereço elogios
Tempo tempo tempo tempo
Nas rimas do meu estilo
Tempo tempo tempo tempo...

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