terça-feira, 22 de março de 2011

O tudo e o nada

Há poucos semanas, assisti ao filme "Moscatti, o doutor que virou santo". O longa traz a história de São José Moscatti, um médico italiano que viveu em Nápoles e se dedicou inteiramente aos enfermos e pobres, vendendo todos os bens que possuía para comprar remédios e alimentos aos necessitados. Em certa ocasião, ao reencontrar um velho amigo, Giorgio - este também médico, mas que, ao contrário, optou pelo "glamour" da profissão -, o resignado Moscatti, a essa altura da vida já "falido", falou-lhe: "Encontrei tudo no nada".

Essa frase, curta e aparentemente sem sentido, me causou uma certa inquietação, que palpita até os dias de hoje. Como assim encontrar tudo no nada? De onde vem essa capacidade de abrir mão da própria vida para assumir uma postura de completa doação aos outros, recebendo "nada" em troca? Sim, porque não foi somente às coisas materiais que ele renunciou, mas até à possibilidade concreta de construir uma bela história ao lado da pessoa que amava. Sua missão era tão grande que exigia dele todo esforço e tempo. Sem murmurar e por livre arbítrio, ele abraçou o chamado de Deus e tornou-se exemplo para os homens.

Moscatti encontrou tudo naquilo que a maioria considera nada: pobreza, cansaço, doença e até solidão. E para nós, qual será o significado de tudo? Dinheiro, sucesso, nós mesmos e nossos próprios interesses, paz interior, saúde, amigos, família? Onde estamos depositando nosso tesouro? Será que valorizamos o que realmente importa? E o que realmente importa para cada um de nós?

Algumas vezes, me pego refletindo sobre isso. Percebo que perco ainda tanto tempo com coisas desnecessárias... O que vou ser (e ter) no futuro? O que os outros pensam de mim? Por que essa situação é assim, não assado? A vida é tão mais que isso... Há tantas coisas "lá fora" - fora de nós mesmos, do que supomos, do que esperamos - que precisam ser valorizadas... Coisas essas que só percebemos na medida em que buscamos, questionamos, recomeçamos e descobrimos a que viemos.

Nesse momento, é isso que tenho feito: procuro conhecer minha missão nesse mundo. No caminho, determinadas "setas" têm me direcionado. Algumas convicções, muitas dúvidas... No meio, uma certeza tem surgido: desejo viver tudo o que Deus reservou para mim. Corajosamente. Mesmo que, para isso, eu tenha de perder algumas coisas, encontrando meu tudo naquilo que, para muitos, representa o nada.

Um comentário:

  1. Talita, esse post me fez lembrar de um sermão na Catedral de Fortaleza, em que o pároco, padre Clairton, falava sobre esse tudo (bens materiais, em síntese) e o nada (a pobreza do ponto de vista da humildade). Vivemos em um universo em que o significado da felicidade (assim como querem que compreendamos) passa por ter um emprego que nos proporcione muito dinheiro e pelas posses. E assim, construímos o egoísmo, esse sentimento que faz com que as pessoas, cada vez mais, se importem mais consigo e menos com os outros. No nada, conforme você descreve no relato do filme, está a crença de que podemos agir de forma a proporcionar bem estar aos que nos rodeiam. Por mais que sejam poucos os que abdicam de itens que constituem o tudo, há alguns daqueles que os possuem que conseguem equilibrar a manutenção do seu bem estar contribuindo para com o dos demais. Assim são as pessoas altruístas. Se houvesse mais delas, certamente nosso mundo seria melhor.

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